Pretensa documentação da vida pop. Sabe o que é vida pop??

1.9.05

Vacas coloridas e antipichação espalham polêmica por São Paulo

" Vacas urbanas, protegidas contra pichação e roubo, serão espalhadas por avenidas nobres e locais bem frequentados da cidade de São Paulo a partir de domingo.
Os 100 mamíferos ruminantes, feitos de fibra de vidro em tamanho natural, foram decorados das mais diversas formas para a CowParade, ou o Circuito das Vacas, que reúne cerca de 70 empresas e um orçamento de 4 milhões de reais.
Depois da exposição de 60 dias pela cidade, as esculturas de 36 mil reais, cada uma patrocinada por uma empresa, serão vendidas em um leilão beneficente com lance mínimo de 5 mil reais e expectativa de arrecadar no total 500 mil reais.
O evento acontece pela primeira vez na América do Sul, mas começou em 1998 em Zurique, na Suíça, país que tem a vaca como seu animal-símbolo. A CowParade já passou por diversas cidades do mundo, como Nova York, Moscou, Bruxelas e Praga.
Considerado por seus organizadores um dos maiores eventos "contemporâneos de arte de rua do mundo", cria polêmica entre especialistas que trabalham com o conceito arte urbana.
"Um objeto decorativo em um espaço público não significa que seja arte", disse o filósofo Nelson Brissac, organizador desde 1994 do Arte/Cidade, projeto de intervenções urbanas.
"Isto está mais próximo de um produto de entretenimento. Mas não tem consistência artística, muito menos urbana. É um formato limitador", disse.
Catherine Deuvignau, diretora da Toptrends, licenciadora e organizadora da CowParade em São Paulo, defende o caráter artístico. "Sem dúvida é arte. A arte está onipresente. Em todos os eventos do mundo a arte aparece muito forte", disse, citando obras que fazem referências a outros artistas, como uma vaca que imita o "Pensador", de Rodin, ou o trabalho de Estevão dos Santos, conhecido como Gaudí brasileiro.
A partir de domingo, 200 placas de ruas serão instaladas nas esquinas e um guia será distribuído para o público que quiser seguir a trilha das vacas. O percurso começa no centro financeiro da cidade, depois sobe para a avenida Paulista e Rebouças, rua Oscar Freire, espalhando por metrôs, shoppings, além da rodoviária Tietê e aeroportos.

EMPRESAS COMO "CURADORAS"

Segundo Deuvignau, cerca de 60 artistas foram convidados e o restante foi selecionado através de projetos inscritos. Mas, após feita a triagem por um comitê de especialistas em arte, todos os escolhidos só puderam entrar de fato no circuito se alguma empresa topasse patrocinar seu projeto. Os patrocinadores também foram responsáveis por escolher o local onde as vacas serão instaladas.
Tais companhias, que variam desde bancos, redes de lanchonetes, fabricantes de pneus e joalherias, pagaram então uma cota de 36 mil reais por cada vaca. O artista recebeu um cachê de 1.000 reais e o material para fazer sua obra.
Nelson Leirner, artista que participou de um evento semelhante em 2000, promovido pela Embaixada da Suíça no Brasil, acredita que a CowParade não seja diferente de exposições dentro de instituições culturais ou feiras de arte, onde tudo acaba sendo patrocinado por uma grande empresa.
"Esse processo é repetitivo do próprio sistema de arte. O artista não tem mais como ser agressor da sociedade ou do sistema de arte. Tudo acaba sendo consumido, englobado", disse Leirner. "Acho que para o público será interessante, mas para a cidade é apenas mais poluição visual."
Entre os artistas mais conhecidos do público estão os cartunistas Guto Lacaz e Angeli, o estilista Lino Villaventura, o arquiteto João Armentano e os artistas plásticos Rochelli Costa, José Roberto Aguilar, Dudi Maia Rosa e Luiz Hermano.

PARA EVITAR "SEQUESTROS"

Arte ou não arte, a polêmica vem de longe. Há um ano, em Estocolmo, um grupo de artistas sequestrou uma das vacas e ameaçou "decapitar" o animal caso os participantes não assinassem uma carta declarando que a CowParade não era um evento de arte.
No fim, a vaca foi feita em pedacinhos e mandada de volta dentro de um saco para os organizadores.
Para evitar esse tipo de ação e criar uma barreira contra o vandalismo das grandes cidades, as vacas serão fixadas por uma base de 350 quilos de concreto e receberão um verniz antipichação. Diariamente, um caminhão, apelidado de "CowHospital", fará a manutenção dos trabalhos.
"Não vai ter como ninguém levar a vaca embora. E se alguém pichar durante a noite, é só tirar com água. É uma vaca pronta para os problemas que afetam a cidade", alertou Deuvignau.
Por Fernanda Ezabella "
(c) Reuters / Uol
Mais, aqui.
Site oficial, aqui.


Divulgação / Vaca by Marcelo Sommer

Nenhum comentário: